Avó,
Já faz quase três anos em que partiste, três anos em sofrimento, três anos em plena saudade. Cada dia que passa, lembro-me cada vez mais de ti, de todos os momentos que passámos, quando me ensinaste a bordar, quando me contaste as tuas histórias hilariantes sobre o passado, quando brincámos sem parar, ligávamos a rádio, metia-mos no volume máximo e começávamos a cantar sem querer saber dos vizinhos.
Dei por mim a preencher a minha almofada em lágrimas e a lembrar-me da última vez que o fiz contigo, da tua última palavra para comigo, «Cátia, toma conta de ti.», nessa altura, pensava que era pura brincadeira e que apenas estavas a ralhar comigo pelas minhas asneiras. Mas afinal, era uma despedida, e eu nem sequer percebi. Dias depois, fiquei eu a saber que estavas num Hospital à base de morfina, estavas a morrer lentamente. Eu queria ir ter contigo a todo o custo, mas nunca me o deixaram, e quando esse momento chegou, já não estavas entre nós. Fiquei tão angustiada que tinha deixado de comer e mantinha-me em silêncio, apenas. Dias depois, chegou o Funeral, e eu, mais uma vez estava em silêncio com tudo e todos, até que de momento vi-te pela última vez, estavas pálida, e aí, as lágrimas começaram a cair de maneira incontrolável, mas mesmo assim, levantei-me, e fui dar-te um último beijo de um «até já», as lágrimas continuaram a cair acertando-te no rosto e deslizando lentamente. No momento do enterramento, eu nem os olhos consegui abrir, limitava-me a agarrar-me com força ao meu irmão a chorar, sem querer acreditar que era uma partida, uma partida tua.
Foi um dos piores momentos em toda a minha vida até agora, foi a maior parte da minha vida angustiosa e melancólica, e ainda hoje, lembro-me de todos os momentos, de todas as alegrias e tristezas que passámos juntas, sempre.
Sinto mesmo a tua falta.